EGO 1: INCERTO

Tagarelando
2 min readMay 20, 2020

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Foto: Pixabay

Nicolas Bold morava em São Paulo. Acordava cedo todos os dias. Ia a padaria trabalhar. Desejava bom dia a todos que passavam e servia a eles, pegava o pão, os bolos, sempre sorrindo. Por dentro temia, tremia. Não sabia dizer quem era ou o que queria. O sobrenome o carrega nas costas, de ousadia nunca teve. Não lia e sempre corria, com certeza sempre se atrasava. A cidade era solitária como ele, como as pessoas no metrô e o silêncio que permeia o vagão constantemente.

Ele não era jovem, ou velho, não era rico ou pobre. Só era ele. Tremendo. O homem, ou talvez ainda garoto, não conhecia ninguém, não falava com ninguém, salvo os clientes da padaria, e talvez seu chefe e os outros funcionários, mas apenas talvez. O dia era assim, arrastado como o sol do fim da tarde. Quase sem fim.

Quando chegava a noite, após o silêncio do dia, os cumprimentos e sorrisos da padaria, o silêncio e lotação no metrô, os olhares cabisbaixos. Ele estava em casa. Tomava um banho, via TV, bebia um pouco de cerveja, talvez para viver o dia seguinte, e dormia. Não tinha futuro, nem passado, nem sabia o que desejar ou sonhar para si. Só conhecia a padaria.

Provavelmente sempre fora assim, arrastado, cabisbaixo, não tem como dizer. Ou talvez o transformaram nisso. Nicolas Bold, o homem das incertezas.

Ass.: F.F.C.

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Tagarelando

Jornalista, tagarela, baixinha e que não vive sem um bom filme, música ou livro e café no fim do dia.